A NOSSA HISTÓRIA…
A história tem destas coisas… recuamos no tempo para compreendermos o presente, contribuindo inequivocamente para melhorar o futuro… Atualmente é quase irrelevante a forma como os cegos se fazem ouvir, a forma como leem, a facilidade com que acedem ao email, a velocidade com que concluem uma compra mesmo que a loja fique no outro lado do mundo… hoje é fácil mas a verdade é que a história mostra-nos que não foi sempre assim… tempos houve onde ler era impossível, o email uma realidade de ficção científica e comprar era só na loja e ainda tinham que ter sorte de poder contar com alguém que os acompanhasse. Os cegos eram indivíduos isolados no seu próprio mundo, já que pouca ou nenhuma informação lhes chegava. Cabia às famílias assegurar-lhes a subsistência e o tempo era passado na escuta do rádio e pouco mais. Olhando a realidade atual, fica difícil imaginar o quanto se evoluiu ao nível social, económico e tecnológico; esta evolução atingiu todas as camadas da população, onde se inclui a população cega e com baixa visão. Hoje veem-se cegos na política, no desporto, na educação, na engenharia e isso torna difícil imaginar o percurso. Facto é que a história não mente e, quando a ela recorremos, descobrem-se coisas interessantes… Como viam os cegos as horas? Algo trivial hoje em dia mas impossível há uns anos para estas pessoas. Tinham que perguntar a alguém, esperar que a rádio informasse ou construir uma noção de tempo baseada em eventos, como ir almoçar, ouvir o programa x ou y, referenciais que lhes davam uma noção rudimentar da passagem do tempo. Pode quase dizer-se que os cegos nasceram para o mundo quando o Braille nasceu para eles. Não é exagero. Poder dispor de um código de escrita foi de facto uma viragem significativa, talvez a maior de todas, na vida da pessoa cega. O braille surgiu num passado já longínquo, tão distante que temos dificuldade até em imaginar a vida sem ele ou sem o seu papel na vida da pessoa cega. Foi o braille que permitiu o primeiro acesso ao mundo da literatura e da escrita criativa. os cegos já podiam escrever e ler! Foi um grande avanço que demorou décadas a ser implementado. Felizmente que a velocidade evolutiva acelerou e muito, pelo que, nos últimos 50 anos, se assistiu a uma viragem total e absoluta no que concerne à vida das pessoas cegas.
Em abril de 74, Portugal reconquista a Democracia. Nos anos 80, uma década cheia de mudanças abruptas, pois Portugal estava ávido de cor, luz e movimento, foi talvez a década onde se deram os saltos mais significativos ao nível da mudança. Os cegos começaram a ter conhecimentos de inovações noutros países e começaram a querer também usufruir dessas inovações. Muitos tinham famílias com emigrantes que lhes traziam histórias. Começava a nascer a necessidade de ter por cá utensílios e equipamentos que pudessem dar alguma autonomia à pessoa cega. Foi assim que, a 2 de maio de 1982 foi criada em Portugal a primeira loja especializada em produtos e equipamentos para a deficiência visual. A loja, resultante da aquisição da sociedade comercial Artur & Abílio, funcionou até 2004 na Rua de São José, junto à Avenida da Liberdade, a poucos metros da sede nacional da ACAPO, e disponibilizava todo o tipo de produtos, dos mais simples aos mais avançados, especificamente vocacionados para as pessoas com deficiência visual, em particular para as pessoas cegas. Foi assim que nasceu o então Departamento de Materiais da ACAPO, a associação que até hoje representa em Portugal os interesses da pessoa cega ou com baixa visão.
Nos anos 90, o então Departamento de Materiais, foi autonomizado numa empresa denominada UET (Unidade de Equipamentos Tiflotécnicos), de que a ACAPO era sócia maioritária. No ano de 2004, começou a pensar-se no crescimento da empresa, processo que veio a ficar concluído em 2009. Pelo meio, a UET foi, entre outros momentos altos, o maior fornecedor de impressoras Braille em Portugal, tendo alcançado, entre outras, a espantosa marca de mais de 540 impressoras Braille vendidas num único ano.
Entretanto, a 17 de dezembro de 2009, nasce a UEST, que resulta do alargamento da atividade da antiga UET, passando igualmente a prestar diversos serviços, especificamente vocacionados para as pessoas com deficiência visual. Nessa mesma data, a empresa muda-se para as suas atuais instalações, na estação Jardim Zoológico do Metropolitano de Lisboa, ao mesmo tempo que passa a ter pontos de venda nas várias delegações da ACAPO fora de Lisboa.
Em 2012, fruto de um acordo comercial com a Tiflotecnia, Lda., a UEST passa a assegurar o segmento de venda ao público em Portugal da Tiflotecnia, passando assim as vendas dos produtos de ambas as empresas a ser asseguradas, no território nacional, pela UEST. O primeiro produto que beneficiou desta parceria estratégica foi o conjunto de vozes sintéticas Vocalizer para o NVDA, em várias línguas, de alta qualidade, desenvolvidos para este leitor de ecrã pela Tiflotecnia.
A crise financeira europeia iniciada em 2008 e que se estendeu pelos anos seguintes afetou o mercado em geral e, como esperado, a Uest, enquanto empresa comercializadora de material específico, foi afetada de uma forma mais aguda. Apesar disso foi conseguindo manter a sua posição e corresponder à maioria das expetativas das pessoas que são o seu público-alvo. Problemas estruturais, administrativos e de gestão foram criando algum mal-estar nos clientes e esta situação acabou por conduzir a uma alteração de políticas do principal acionista e culminou com a mudança de gerência em outubro de 2020. Sem recursos humanos e com nova Gerência, podemos afirmar que a Uest renasceu das cinzas. A nova equipa de gerência, juntamente com a única colaboradora ao serviço, pretende mudar o paradigma e tornar a UEST numa empresa que vá muito para além do seu papel comercial. Aqui não encontrará apenas produtos que vão de encontro às suas necessidades ou pretensões, mas sim um conjunto de serviços que iremos gradualmente colocar ao seu dispor. Alguns desses serviços não estarão disponíveis para já mas constarão aqui para que nunca nos deixem esquecer do nosso compromisso convosco.
Fazer o nosso trabalho não constitui dificuldade nem pode ser encarado como um desafio, o verdadeiro desafio é de facto conseguirmos fazer um trabalho de excelência, de tal forma que, dentro de algum tempo, possamos ser a escolha óbvia quando se fala de produtos pensados para pessoas cegas e com baixa visão. Contamos com todos!